segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Usinas nucleares: prós e contras

Replico aqui duas entrevistas feitas pelo repórter Jailson da Paz e publicadas no jornal Diário de Pernambuco em 15/02/2009, a respeito da implantação de usinas nucleares no Velho Chico. Apesar da data, são atualíssimas.

Entrevista // Clóvis Cavalcanti

"Nossa vocação é usar energia do sol"

Economista ecológico, professor da UFPE e pesquisador da Fundaj, Clóvis Cavalcanti é um dos críticos à instalação de uma usina nuclear no Brasil. Para ele, o país vai na contramão da história ao optar por esse modo de produção de energia elétrica.

Como o senhor vê a possibilidade de se construir uma usina nuclear no estado?

Algo fora de sentido. Nossa vocação é usar energia do sol. Estamos atrasadíssimos. Países que não têm sol o ano inteiro, como Canadá, Alemanha e Suíça, estão à frente. O Brasil fica discutindo algo já debatido e que não é unanimidade. É uma visão tacanha, limitada e momentânea. Temos que ir em busca de energias alternativas, que não a nuclear.

E se vier a ser construída, como se cogita, próxima ao Rio São Francisco?

A situação parece ainda mais grave. É preciso saber se a população aceita a proposta. Em outros países, a escolha da energia nuclear é discutida em plebiscito. Aqui não se pensa nisso. Toca-se os projetos nos gabinetes, indo de encontro a princípios democráticos. Se fosse no regime militar, daria para entender.

O senhor tem afirmado que, a exemplo de uma usina nuclear, os novos projetos em Suape, como a refinaria, podem resultar em problemas ecológicos. Quais?

A construção de uma refinaria vai estimular um consumo maior de petróleo na região, quando precisamos reduzir esse consumo, e provocar o aumento da emissão de gás carbônico. Isso é ruim, sobretudo para o Nordeste, uma das áreas que mais sofrerão os efeitos do aquecimento global no mundo. Não sou eu que digo isso. São as previsões dos maiores estudiosos do clima.

As atividades da refinaria trarão prejuízos ao meio ambiente?

Haverá risco maior de acidentes com a movimentação de navios petroleiros. Esse tipo de acidente é tão comum hoje, que a imprensa não divulga os pequenos vazamentos de combustível. Se houver um derramamento poderá afetar as praias. Mesmo sem acidentes, acredito que, a longo prazo, Suape vai ter reflexos negativos para o turismo no litoral. Qual o turista que, na hora de descansar, vai querer ver indústria e poluição?

Entrevista // Carlos Brayner

"Novos reatores são 10 vezes mais seguros"

Carlos Brayner, doutor em engenharia nuclear, é um defensor da instalação de usinas nucleares no Brasil. Integrante do grupo de engenharia de reatores da UFPE, ele define como limpa e segura a produção de energia por essas unidades.

Como o senhor vê a proposta de se implantar uma usina nuclear em Pernambuco, especificamente às margens do São Francisco? É um bom negócio?

A implantação de uma usina nuclear requer uma área pequena e certa quantidade de água para refrigerar os condensadores de vapor. Portanto, um sítio às margens do rio é uma opção, em princípio, viável. Penso que a instalação no litoral é mais interessante, sob vários aspectos. O país possui tradição neste tipo de instalação e isso implica riscos menores para a população. Além disso, no litoral, a usina não depende do regime de vazão do rio, que pode sofrer períodos críticos de abastecimento.

A produção de energia a partir de usinas nucleares é segura, hoje?

As usinas nucleares funcionam há mais de 50 anos e, atualmente, há quase 440 espalhadas em mais de 30 países. Elas produzem 16% da energia elétrica do mundo, de forma limpa e segura. Houve um acidente de proporções graves na Ucrânia durante todo este tempo, que somado ao estigma das bombas atômicas, contribuiu para a descrença neste tipo de usina. Entretanto, a nova geração de reatores é pelo menos 10 vezes mais segura do que os projetos de reatores daquela época.

Quais os prós e contras de construir uma usina nuclear?

O Brasil possui o domínio científico e tecnológico de todo o ciclo do combustível nuclear, que é a parte sensível na construção e operação de um parque de usinas. Tem urânio em abundância. Manter este conhecimento e a tecnologia necessária para utilizá-lo significa a garantia de sua soberania nacional no que diz respeito à geração de energia. O ponto crítico no uso dos reatores atuais é o gerenciamento do lixo radioativo produzido pela usina. Isto não significa que a população esteja sujeita a altos riscos com a operação das usinas hoje.

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