sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Rios, riachos e vampiros

Que o Velho Chico está pedindo socorro, todos sabemos. Que é preciso revitalizá-lo, também. Até temos idéia, uns mais, outros menos, de quais medidas devem ser tomadas para recuperar o rio da devastação insana que sofreu séculos afora, resultando na derrubada de suas matas ciliares e no assoreamento de seu leito. No início pela pecuária sem limites, depois pela agricultura sem controles, sem falar da produção de lenha para alimentar as caldeiras dos vapores, como ficaram conhecidos os barcos a vapor que dominaram o Velho Chico entre o último quarto do século XIX e quase final do século XX. O crescimento das cidades ribeirinhas sem os indispensáveis serviços de tratamento de lixo e esgoto deu mais um golpe brutal no velho rio.

Se tudo isso já é muito ruim, um fenômeno de gravidade talvez ainda maior vem tomando corpo nas últimas décadas. Trata-se da agricultura irrigada de exportação, que tomou de assalto grandes áreas da bacia do São Francisco, ameaçando o "Nilo Brasileiro" de virar pó e transformar-se num daqueles rios intermitentes do semi-árido nordestino. O problema assumiu uma dimensão espantosa na região dos cerrados, especialmente no noroeste mineiro e oeste baiano, onde nascem e escorrem importantes tributários do Velho Chico. A monocultura de exportação vem ocupando enormes espaços nessas regiões, destruindo a vegetação natural, de riquíssima biodiversidade, e definhando os rios que alimentam o São Francisco, seja pelo assoreamento ou pela utilização de forma irresponsável de suas águas na irrigação. Como vampiros, os pivôs centrais sugam sofregamente essas veias que levam o sangue do “rio da unidade nacional”.

A alegação dos agricultores de que estão produzindo desenvolvimento, gerando empregos e trazendo divisas para o país parece, à primeira vista, inatacável, soando como politicamente correta, porém tudo isso não passa de aparência. Acontece que, a longo prazo, tal desenvolvimento não se sustenta, podendo ter conseqüências nefastas e catastróficas para o ambiente natural, como já se pode perceber. Além disso, tal modelo de desenvolvimento beneficia apenas uma pequena parte da população, já que favorece a concentração de renda e gera, relativamente, poucos empregos. É verdade que existe a geração de divisas com a exportação, mas isso ocorre, em boa medida, pelas desigualdades sociais da população brasileira e a inexistência de um mercado interno suficientemente forte para absorver a produção. Não será esse modelo de desenvolvimento concentrador de renda que desencadeará o fortalecimento do mercado interno no Brasil.

Incontáveis pequenos sub-afluentes já secaram e diversos morrem à mingua sem o conhecimento da maioria da população da bacia sanfranciscana e, muito menos, de outras regiões brasileiras. A morte dos riachos, é verdade, não está unicamente ligada à agricultura de exportação, mas em todos os casos é possível verificar o desmatamento e o uso sem controle da água. Enquanto pequenos agricultores se apossam dos mananciais para irrigação de suas hortas e roças, o poder público fecha os olhos, não tomando qualquer medida, seja para impedir os abusos ou para revitalizar aqueles córregos. Prefeitos? Em muitos municípios, eles parecem não existir, pelo menos quando se trata de questões ambientais.

3 comentários:

  1. Tio,

    O seu texto retrata de forma crítica e mto atual a realidade que estamos vivendo na Região Oeste.

    E q mais incomoda é a falta de atuação do poder público em fiscalizar e coibir as atitudes, " empreendimentos" desses vampiros.

    A sociedade perdeu a consciência de VIVER, perdeu a vontade do amanhã, só enxerga, anseia, benefícios próprios e inconsequentes.

    Adorei o Texto!

    bjo,

    Bárbara

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  2. Muito bom o artigo. Este é um retrato verídico do que está acontecendo no Oeste Baiano. Falta vontade política e democratização. Aqui o que funciona é a lei de Gerson. Todos querem tirar proveito e os mais fortes tem vantagem neste processo. As autoridades organizam muitos seminários, mas as palavras ficam apenas nas próprias palavras. O fazer prático para mudar a realidade da degradação ambiental não acontece. Pouco importa a preservação dos recursos naturais, se sua destruição no presente está oportunizando rentabilidade. Mesmo sabendo das consequências desastrosas que o desrespeito com as reservas legais e as Áreas de Preservação Permanentes causam - APPs, o fator econômico é considerado a força motriz da vida. A falta de consciência é alarmante e a máxima de que "o próprio homem se destrói" é cada dia mais perceptível. Como também a idéia de que os "fortes cada vez mais fortes e os fracos cada vez mais fracos". O mais aberrante é que uma parcela muita pequena explora sem precaução a nossa natureza e não nos dá nenhuma contrapartida. O monópolio é muito grande, as riquezas naturais se esvaem e como fica a região Oeste se os lucros obtidos vão embora? É lamentável e injusto, mas é real, estamos cada vez mais ricos de prejuízos ambientais. Nosso Velho Chico, nossa natureza a passos largos vem perdendo a vitalidade. Acredito que só a sociedade pode mudar este cenário. A sociedade precisa mobilizar-se. Romênia Mariani

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  3. Então, essa coisa de poder ânsia de progresso, é um caos no meio ambiênte, as consequências são dràgicas,é preciso uma conciêntização rigorosa, para que a humanidade se toca, que o planeta está pedindo socorro, esse é o reflexo do desequilibrío te tudo que está acontecendo no nosso planeta, ainda há tempo, a natureza por si propria se recompera o ploblema todo é que o homem não da tempo pra ela se reconstituir, o proplema se agrava a cada dia,Em relação ao Velho Chico que é Um grande nilo que corta todo Nordeste com sua soberania, corta-me o coração em ver esse pluroso rio sendo sucatiado,e devastado por por gente que só pensa em si próprio sem medir consequência alguma isso é muito triste, e desumano, o povo, a natureza precisa do Velho Chico, afinal ele que é o sustento desse povo, as autoridades desse país tem que tomar sérias providências para que não venha se agravar ao ponto do Rio virar um deserto,isso causaria um abalo profundo no meio ambiênte, uma catástrofe. Vamos a luta o povo é que tem que se manifestar e exigir das autoridades, afinal o povo é soberano.

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