terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Cem anos de atraso


Na minha infância, eu ouvia dos mais velhos que quem matasse um urubu estava condenado a “cem anos de atraso”. É fácil compreender: o catartídeo negro sempre exerceu um papel da maior relevância no meio rural, o de higienizador, ao eliminar a carniça, os corpos apodrecidos de animais mortos. A sabedoria popular tratou então de achar um meio de proteger os urubus, na falta de sanções do Estado contra quem os ameaçasse, apelando para esse recurso ideológico de grande efeito.

Faço agora uma adaptação, transformando em praga aquilo que já foi tido como uma fatalidade para quem descumprisse o preceito. Nunca fui e não sou de rogar praga, mas vou abrir uma exceção, diante da passividade do Estado na proteção do patrimônio natural e do seu claro favorecimento à monocultura de exportação que está destruindo o cerrado brasileiro.

Aí está minha praga: cem anos de atraso para quem derrubar um pequizeiro. Pode ser que isso de nada adiante e a monocultura de exportação, tal qual uma metástase cancerosa, continue invadindo irresponsavelmente as terras dos gerais, mas meu desabafo fica registrado. Se não servir para, ao menos, provocar uma reflexão em alguém, será útil na pacificação de minha consciência.

2 comentários:

  1. Maravilha, Adalberto!
    Adorei essa praga por você rogada.
    Tomara que ela pegue!
    Minha mãe, ao fechar negócio com um terreno de um condomínio em Brasília, acabou comprando dois lotes - o da frente e o dos fundos -, comovida que ficou com um pequizeiro prá lá de centenário que dividia os dois lotes. Hoje, como que retribuindo os cuidados de minha mãe para com ele, lá está o pequizeiro, bonito, viçoso, repleto de enxertos de orquídeas, majestoso! Os dois lotes que o pequizeiro divida, tornou-se um só, ele reinando lá no meio, bonito!
    Parabéns pelo seu blog, amigo, tá maravilhoso!
    Você escreve bem que é uma beleza!

    Beijão,

    Diana (ipêuta).

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  2. É por aí, meu Tio. A analogia feita é bastante apropriada. Concordar com a passividade é péssimo. Fazer alguma coisa é extremamente necessário e a provocação já é um bom começo. A praga é válida e é por uma causa nobre. Tem o meu apoio! (Risos)

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