sexta-feira, 5 de março de 2010

Silvos alarmantes

O monstro que desapareceu da gruta do Bom Jesus pode estar de volta sob nova aparência

Na gruta de Bom Jesus da Lapa, havia uma cobra-de-asas que aterrorizava a todos, mas, segundo Wilson Lins, o ilustre escritor de Pilão Arcado, aquele monstro demoníaco teria perdido as penas, ficando sem capacidade para voar, por obra e graça dos incontáveis ofícios de Nossa Senhora lá rezados. Aonde foi parar o tal bicho encantado, desaparecido e jamais visto?

Tenho cá meu palpite, querido leitor ou leitora. Analise os fatos com serenidade, veja os argumentos e as comparações, repasse depois todo o trajeto do meu raciocício, que não é infalível, e finalmente tire suas próprias conclusões. Reconheço que posso tropeçar na busca da verdade, risco a que está sujeita qualquer pessoa, da mais simples à mais sábia. Ah, isso eu tenho de reconhecer, pois neste mundão sem manual de instruções a certeza completa de qualquer coisa é produto muito raro. Mesmo assim, posso garantir e dou minha palavra de honra: tudo que está dito aqui é sincero.

Então, siga-me, leitor. Tendo perdido as penas e ficado impossibilitada de voar, não restaria outro caminho senão o de se arrastar entre rochas e buscar um abrigo onde as preces dos devotos não pudessem ser ouvidas. Pode ser também que por milagre, tenha deixado de existir, como muitos afirmam, mas não acredito nessa hipótese, pois os ofícios de Nossa Senhora eram rezados com a intenção de depenar o montro e não de destruí-lo. Este é o meu palpite: a serpente, ameaçada por tantas forças poderosas, meteu-se silenciosamente pelas gretas, e acabou escapando para os matos, indo parar não se sabe onde.

Muito tempo depois da fuga, a serpente pode ter recuperado seus poderes e, de forma dissimulada, passou a atacar suas vítimas. Tão grande seria o dom de iludir dessa filha do cramunhão que suas próprias vítimas se sentiriam beneficiadas com seus atos, mal sabendo que o suplício viria quando elas menos esperassem.

Pois bem, tenho observado que empresas de “alta tecnologia” estão oferecendo o paraíso aqui na terra, ao dizer para os agricultores e a população em geral que as sementes desenvolvidas em seus laboratórios, conhecidas como transgênicas, são milagrosas, pois produzem muito mais do que aquelas já conhecidas e não fazem mal algum. A principal delas, a Monsanto, depois de lançar seus venenos pelos campos, está agora se fazendo de santa e vive trombeteando uma inédita preocupação com a saúde ambiental do cerrado brasileiro. Como se diz por aí, “quando a esmola for grande, desconfie do santo”. Na minha opinião, leitor e leitora, essa tal Monsanto é uma cobra de asas disfarçada. Fiquem longe dela e não acreditem em seus programas de recuperação ambiental aparentemente bem-intencionados.

Não me interprete mal, prezado leitor, e nem tome minhas afirmações como definitivas sobre a nova aparência da cobra de asas. E digo mais: mesmo que a Monsanto seja outra coisa qualquer, acho que ela é tão ou mais aterrorizante que o diabólico ofídio alado de Bom Jesus da Lapa.

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